2.09.2022 - 7:00AM

Opinião - Sustentabilidade

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Autor: Hugo Fernandes

Após milhares de anos de existência e de tantas conquistas, a humanidade tem ultimamente lidado com a preocupação de reconquistar o seu habitat natural. Somos constantemente alertados para a aproximação de um ponto de não retorno, com temas como sustentabilidade, transição energética e otimização de recursos a fazer parte do dia-a-dia noticioso. Cabe a todos a adoção de medidas que promovam melhorias nesse sentido e a tecnologia será certamente um grande aliado para esta reconquista, com a implementação de sistemas que ajudem as mais diversas organizações na obtenção de melhores resultados para o planeta e seus habitantes.

A emissão de gases poluentes, principalmente o dióxido de carbono (CO2), é sem dúvida o maior desafio a travar, sendo emitido na produção de grande parte da energia de que necessitamos: nos transportes, nos edifícios e na indústria. Estima-se que na Europa os edifícios possam consumir cerca de 40% da energia, levando à emissão de 36% de todas as emissões de dióxido de carbono da União Europeia. Em Portugal esse consumo desce ligeiramente para perto de 30%, contudo continua a ser demasiado elevado, tendo surgido inúmeros apelos e incentivos à descarbonização e à transição energética com o objetivo de se atingir a neutralidade carbónica até 2050. Estes surgem não só para enfatizar a utilização de energia proveniente de fontes renováveis, mas também para a implementação de medidas tecnológicas que visem essencialmente o aumento da eficiência energética dos edifícios e a descarbonização da indústria, diminuindo a sua pegada ecológica e promovendo assim uma economia e uma sociedade mais sustentável.

Os sistemas de Gestão Técnica Centralizada (GTC, ou na sigla em inglês BMS) evoluíram para os atuais SACE - Sistemas de Automação e Controlo de Edifícios, com a integração de cada vez mais sistemas de que são compostos os edifícios, como é o caso da iluminação, do AVAC e da qualidade do ar, da segurança, energia, gestão de carregamento de V.E., etc.; com a recolha e tratamento de dados; e com a implementação de rotinas avançadas que visam o funcionamento integrado e mais eficiente do edifício no seu todo, sendo essenciais para a obtenção de certificações energéticas como é o caso do LEED ou BREAM.

No caso da iluminação, com a integração de protocolos de comunicação (ex. DALI) que permitem a regulação de vários parâmetros, os SACE podem facilmente reagir à presença de utilizadores tendo em conta o horário, a influência de luz natural e as condições de iluminação exterior, ajustando automaticamente o fluxo luminoso e a temperatura de cor para fazer corresponder o tipo de iluminação interior às condições exteriores e à ocupação/utilização do edifício, interferindo ao mínimo com o ciclo circadiano e visando o maior conforto dos utilizadores. No que toca à climatização temos hoje vários tipos de edifícios que adaptam a temperatura dos diferentes espaços consoante as mais diversas variáveis, como por exemplo as condições climatéricas exteriores, a deteção de presença, o horário de funcionamento, a qualidade do ar interior… levando a que se obtenha o melhor desempenho associado ao maior conforto dos ocupantes, mas também uma poupança energética que é fortemente valorizada nos dias que correm se levarmos em conta o custo da energia.

Levando em conta a pandemia global vivida desde 2020, os responsáveis pelo projeto de edifícios inteligentes dão cada vez mais importância a soluções que visem o bem-estar do ser humano, com a monitorização de vários indicadores do estado do ar interior dos edifícios, uma vez que se estima que os habitantes de países desenvolvidos passam entre 80 a 90% do seu tempo em espaços fechados, entre habitação, local de trabalho, espaços comerciais, serviços e locais de lazer. Não sendo já suficiente a monitorização da temperatura e da humidade do ar destes espaços, surge agora a necessidade de registo de outros parâmetros como o dióxido de carbono (CO2), que afeta essencialmente o nível de concentração e o poder de decisão do indivíduo; dos compostos orgânicos voláteis (VOC) presentes em materiais que compõem um edifício como tintas, colas, carpetes, e que podem causar dores de cabeça, irritação nas vias respiratórias e vómitos; e ainda da concentração de partículas PM2.5 e PM10, que se podem alojar na cavidade pulmonar ao longo dos anos e acabar por desencadear doenças respiratórias graves. A sensibilização para estes factos é mais do suficiente para a implementação de soluções de monitorização e controlo do ar, soluções estas que a curto-médio prazo poderão ser obrigatórias por lei em espaços de comércio, serviços, lazer e trabalho.

De forma a atingirmos a neutralidade carbónica, o projeto dos edifícios irá tender para os denominados nZEB (Nearly Zero Energy Building) ou seja, edifícios inteligentes com necessidades praticamente nulas de energia, em que os SACE implementados terão de possuir a capacidade de monitorização detalhada e em tempo real de todos os consumos energéticos do edifício, efetuando a melhor gestão de consumo de energia. Neste âmbito, estima-se que a consciencialização do gasto energético envolvido na utilização de um edifício irá provocar pequenas mudanças na forma como o utilizamos e isso permitirá por si só a poupança de cerca de 20% da energia consumida, sendo por isso uma das primeiras medidas a adotar para o aumento da eficiência energética.

Em resumo, os constantes desafios para a promoção do bem-estar e a inevitável necessidade da descarbonização com o objetivo de atingirmos as metas para a neutralidade carbónica, passarão cada vez mais pela preocupação e foco na saúde e conforto dos ocupantes dos edifícios sem descurar o seu funcionamento, obtendo um equilíbrio energético que só será possível com a implementação de sistemas inteligentes, avançados e integrados ao nível dos SACE, fazendo-os evoluir com a necessidade crescente da sua própria implementação.